quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Relato de viagem- Minas Gerais, Ouro Preto/Mariana- dezembro 2015.

Parte 1: Antes de ir... Sou mineiro, não daqueles que trabalham nas minas, lavras, catas ou jazidas explorando minérios. Sou mineiro, daquele que é definido como “natural” do estado de Minas Gerais. Nasci em Barbacena, lugar que costumo apresentar como uma cidade histórica que não deu certo. Próxima a Tiradentes e São João del Rey, ao contrário de suas vizinhas, não preservou seu patrimônio histórico e cultural. A impressão que tenho é que fez o oposto, apagando o que pode, mantendo-se fiel apenas às relações de poder e subordinada às famílias Bias Fortes e Andradas que se revezam a mais de 300 anos. O fato é ironizado e muito bem lembrando por Fernando Sabino no belo livro “ O grande mentecapto”. Barbacena é cortada pela antiga linha de ferro da extinta Rede Ferroviária Nacional S.A. – RFFSA. Das lembranças de infância carrego comigo as muitas tentativas de contar os vagões de trens que cruzavam a cidade dia e noite carregando minério. Bem me lembro que sempre perdia a conta. Mal sabia naquela época que era por meio desses trens que Minas sangrava. Ainda sangra. O minério de ferro é um “commoditie”, uma palavra inglesa que significa “mercadoria”, usada para definir o que costumávamos chamar de “matéria prima”. Produtos de origem primária, praticamente em estado bruto , explorados e vendidos em grande quantidade para o mercado internacional e com preços determinados por jogadas desse mesmo mercado. Minas é grande. Minas é Gerais. Qualquer desavisado da História que visite Minas com um olhar mais atendo percebe que o estado é cheio de riquezas, que no (do) fundo só faz aumentar a pobreza e a dependência. Assim foi, assim é! Esse é o caso de Mariana e de outras cidades que se espalham pelos Gerais. Adentrando os sertões de Guimarães Rosa, isso fica mais claro, tantas são as cidades com nomes de pedras, minerais, gemas, jóias: Turmalina, Diamantina, Ouro Branco, Ouro Preto, Berílio, Lavras Novas, Catas Altas... Mariana, cidade colonial, primeira capital de Minas Gerais, localizada a 12 kilômetros de Ouro Preto ( antiga Villa Rica) e aproximadamente a 90 kilômetros de Belo Horizonte, atual capital. Teve sua origem e economia baseadas na extração de ouro e na agricultura. Trezentos anos depois, com cerca de 60 mil habitantes, a base de sua economia continua sendo o extrativismo mineral. O ouro se foi, o minério de ferro se vai . A economia da cidade cresce a medida em que se expande a atividade mineradora, e com isso cresce também sua dependência. No dia 05 de novembro de 2015, Mariana entrou mais uma vez para a História, agora como protagonista do maior “desastre” ambiental que o Brasil já viu (viu?). Fiquei sabendo do rompimento da barragem pelas notícias de jornais e pelas redes sociais. Falava-se, sobretudo, da contaminação do Rio Doce. Fiquei impressionado com o que vi, o suficiente para querer ver de perto. No dia 16 de novembro convidei uma velha amiga dos tempos da minha passagem pela Biologia para visitarmos a região atingida. E para minha surpresa ela não só aceitou, como alugou uma casa em Ouro Preto, juntou a família, fez as malas , fechou contatos, abriu portas e partimos no dia 05 de dezembro, exatamente um mês após o desastre. Eu não fazia idéia do que encontraria ou se de fato encontraria!

domingo, 29 de novembro de 2015

menos cinco jovens negros vivos, mais um crime da Polícia Militar do Rio Janeiro!

Domingo, dia 29 de novembro, menos cinco jovens negros vivos, mais um crime da Polícia Militar do Rio Janeiro! ( Ao escrever essa frase fico com a estranha sensação de "déjà vu" ou, em outras palavras, do "já visto" , essa encruzilhada em que parecem se encontrar passado, presente e futuro, a história que se repete). E o pior, inevitável história. A mídia não perde tempo, ao noticiar a tragédia - faz questão de apontar os culpados, não se precipite achando que são os policiais. Ora, os culpados são as próprias vítimas é preciso deixar isso claro. Ao descrever os jovens é preciso desqualifica-los, reduzir as perdas, justificar os enganos. Em um pequeno trecho da matéria do jornal Extra lemos o seguinte: "A Polícia Civil informou que dois dos cinco jovens têm passagem pela polícia. Wesley tinha uma anotação criminal por tráfico e Cleiton, por furto." Não são jovens quaisquer, são negros, moradores da zona norte, Costa Barros, pra ser mais exato. O jornal destaca - dois deles são fichados, logo, não prestam! Nessa lógica, os outros três, por sua vez , também não prestam, afinal se prestassem não andariam com quem não presta. Certo? Cinco jovens negros dentro de um carro onde já se viu? É um "bonde"! Cinco jovens negros executados! Não existe policial mal preparado, pobres vítimas do despreparo! Isso é balela, o que existe é policial preparado para matar!