quinta-feira, 26 de novembro de 2009

CIRCO PALOMA 2: LUZIA



Luzia chorou como nunca havia chorado, chegou a molhar os pés. Sentia a falta de Juvenal, o mágico, o malandro. Aquele corpo embalsamado não lhe bastava, seco. Foi Juvenal quem encontrou Luzia, frouxa, trouxa na estrada. Ela aos tropeços, menina ainda, com seus 12 anos, sozinha. Restava ainda um resto de resto, de verde nos seus olhos. Carrega consigo impressa lá no fundo dos olhos a lembrança das cores saindo do pó. Sem forma, apenas cores se aproximando numa nuvem de poeira. Ele era a cor mais forte, vinha na frente, vermelho opaco, Juvenal. A última imagem. O que restava de verde vazou de seus olhos, misturaram-se as cores.
A seca era grande, a maior de todas. Secou esperanças, açudes e lembranças. Luzia esqueceu como se caminha. Lembrava apenas do caminho, mas faltava a luz, a cor. O Vermelho Opaco a conduzia, fora adotada como parte da trupe, das cores do circo.
Ele estendia uma corda no chão, fazia e refazia os caminhos. Luzia aos poucos reaprendera a andar sobre a corda. Somente sobre a corda. Um dia Juvenal amarrou a corda entre duas algarobas, bem esticada, longe do chão. Luzia caminhou confiante, e desde então, tornara-se a equilibrista Esperança.
A esperança na corda bamba já não é mais novidade.

Um comentário:

Miragaya disse...

Sensacional meu camarada. Simplesmente sensacional