quarta-feira, 28 de abril de 2010

Curta Curtis!


COMING TO LIGHT – EDWARD CURTIS AND THE NORTH AMERICAN INDIANS

DIR: Anne Makepeace, EUA, 85 min, 16 mm, 1999

Sinopse: (retirado do catálogo da Sétima Mostra Internacional do Filme Etnográfico)

O filme retrata a vida de Edward S Curtis, brilhante fotógrafo de Seattle que, entre 1900 e 1930, fotografou e filmou os índios da América do Norte. Os descendentes dos “modelos” de Curtis utilizam as fotos para fazer renascer suas culturas e explicar o que elas representam para os índios de hoje.

DO comentário:

Três fatores fundamentais marcam a História específica dos EUA no século XIX, a Guerra Civil, a “Conquista” do Oeste e a Guerra Hispano Americana (que estigmatiza o início do domínio norte americano sobre a América Latina). Um desses fatores, a Conquista, é de suma importância para o entendimento do trabalho de Curtis, que vivenciou parte de um períodos dos maiores massacres da América (1865-1890), o genocídio dos índios norte americanos que, apoiado pelo governo, se torna institucionalizado. Curtis inicia seu projeto de registro nos fins do século XIX, logo após o período dos grandes massacres. Ele talvez tivesse a consciência de que seu trabalho fosse o único registro desses povos. Quando inicia, muitos povos já haviam se extinguido, sido dispersos e divididos em reservas fora de suas áreas originais. A idéia inicial era de registrar fotograficamente todos os grupos indígenas norte americanos e fazer uma enciclopédia, mas ele acaba também se utilizando de câmeras de cinema tentando filmar antigos rituais até então nunca registrados. Não conseguindo, recria esses rituais em estúdio e lança vários filmes no mercado. Suas fotos, grande parte delas são influenciadas pelo Retratismo e Pictorialismo do século XIX. Hoje muitos antropólogos questionam o trabalho de Curtis embora reconheçam seu valor. Muitas vezes, principalmente quando ele parte para o cinema, seu trabalho parece ficar no limite entre a realidade e a ficção, conseguindo de uma forma diferente, diria até mesmo perigosa de atrair a atenção para um tema até então abominado na sociedade americana: a questão indígena.

Navajos, Tupinambás, Cheyennes, Guaranis, Siouxs, Apinajés, Kiowas, Pataxós, Aparahos, Bororos, Cherokees, Timbiras, Creeks, Aymorés, Mohawks, Goitacazes...

São uma pequena parte dos muitos Povos da América do Norte e do Brasil que guardam entre si muito mais do que origem, tradições e histórias, talvez compartilhem do mesmo fim, o fim assistido algumas vezes por Curtis. Uma história que se repete em toda parte... (será?)


O documentário segue uma narrativa linear mostrando que o trabalho e a vida de Curtis se fundem, induzindo durante algum tempo o espectador a ter um pensamento que se confunde com o do próprio Curtis, até que, em determinado momento, começa a trabalhar com elementos que geram um conflito interno. Um desses elementos é o questionamento da veracidade e da validade de seu trabalho, aquilo que era verdade torna-se verossímil. Abrindo espaço para a discussão tanto da fotografia quanto do cinema documental e sua suposta objetividade. Curtis parecia estar absolutamente envolvido por seu trabalho ao ponto de tentar reconstruir realidades que até então já não mais existiam, essa reconstrução é o limite com a ficção.

Conheçam a obra de Curtis!


Marcelo Valle

Um comentário:

o pá virada disse...

eo registro cinematografico salvando a humanidade