segunda-feira, 3 de maio de 2010

HQ é coisa séria…



Neil Gaiman que me desculpe, mas tirei da gaveta um velho papel amassado e carcomido com um pequeno texto que escrevi há uns dez anos. Trata-se de uma adaptação livre, uma releitura, mal feita (e mal cheirosa) de uma parte de “Prelúdios e Noturnos”, do primeiro Arco da série Sandman, publicado no Brasil em meados da década de 90.

Sonho e Esperança são irmãos. Numa tentativa de desorientar a Humanidade, a Esperança foi raptada e separada do Sonho. Viver sem esperança é um pesadelo. Seguindo os rastros da Esperança (a esperança sempre deixa rastros), o Sonho chegou até as profundezas do Inferno. O Sonho tinha um nome, chamava-se Morpheu. O barulho era literalmente infernal, gritos de agonia e de dor tomavam todo ar. Ar?! Demônios, demônios, demônios de todas as hordas do inferno cercavam Morpheu, o mestre dos sonhos. Milhões deles em formação de batalha fitavam-lhe nos olhos. Olhares cheios de certeza. Um poderoso senhor do inferno levantou sua voz acima de todas as outras e, imediatamente, nada mais foi ouvido. Um silêncio também infernal. Esse mesmo demônio, cheio de ousadia, quebrou o silêncio e lançou uma pergunta a Morpheu:

- Você não tem nenhum poder aqui, que poder tem os sonhos no inferno?

Outra vez o silêncio…

A reposta veio em forma de pergunta, com a suavidade de um sonho e a força de um pesadelo:

- Vocês dizem que eu não tenho poder? Talvez tenham razão, mas dizer que os sonhos não têm nenhum poder aqui?

- Digam-me, perguntem-se…

- Que poder teria o inferno, se os prisioneiros daqui não pudessem sonhar com os céus?

Em seguida, nenhuma palavra foi ouvida, no entanto, a resposta foi dada. Lentamente, milhares de demônios baixaram seus olhares e suas armas, aos poucos o caminho foi sendo aberto.

Com passos firmes, o senhor dos sonhos prossegue sua jornada transitando livremente entre céus e infernos, afinal, sonhos e pesadelos são feitos da mesma matéria.

A humanidade com esperança acompanha os passos do sonho…

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