segunda-feira, 3 de maio de 2010

A Verdade existe



Inocentemente, em uma grande ilusão, alguém inventou o relógio achando que poderia marcar o tempo sem perceber que era ele que ia sendo marcado…

Uma hora da tarde.
Jovem Sebastião, amante do ócio e da filosofia passara toda a manhã sentado no meio fio com a cabeça baixa apoiada sobre os joelhos. Vagamente filosofava sobre o tudo e o nada. Assim, ele pensava em tudo e quase sempre concluía nada. Mas dessa vez foi diferente: o tudo e o nada são só possibilidades! Ergueu a cabeça satisfeito e levantou-se rápido. Mais rápido foi seu olhar que fisgou uma loira que por ali passava. Em apenas um segundo esquecera tudo o que filosofara e não sobrou nada. Em um ato incontido bradou:
- Ô beleza! Dessa fruta eu chupo até a caroço!
A loira fingindo-se de ofendida virou o rosto e mudou de calçada. Ele, coitado, sentiu um vazio de repente, uma certa solidão. Entrou em um bar, tomou uma… tomou duas… tomou três. Ao sair o mundo estava ligeiramente diferente, caminhando sem destino esbarrou em uma placa que assim dizia:

Promoção do dia: Respostas filosóficas por apenas 1 real“Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres”
Evangelho segundo João
Três horas da tarde. Entrou em um edifício velho, atravessou um velho portão, seguindo por um também velho túnel. No fim deste havia uma luz, sob ela iluminado, redundantemente, um velho ancião de barba longa que lhe deu as boas vindas.
- Senhor… Ia dizendo ele quando foi innterrompido.
- Não digas nada, já sei o que queres, apenas escute, verdades…
E assim começou a falar continuamente.
- Vivemos alternando momentos de loucura com momentos de lucidez, para cada um desses momentos uma verdade. Verdade é o que buscas, não? A verdade é um todo inseparável. Por mais longa que seja a noite, há dia e por mais longo que seja o dia, há noite. Entendes? A verdade pode ser una ou várias. A verdade de uns é a loucura de outros, confunde-se com a mentira e quase nos engana. Emana do coração e da mente humana. Muitas vezes justa, muitas vezes insana.
Com um sorriso maroto e um ar filosófico o ancião disse ainda:
- Logo a verdade estará acima de ti!

Quatro e dez. Sentindo-se enganado, Tião tirou do bolso uma nota amassada de um real e entregou ao ancião. Baixou a cabeça e tomou o rumo de casa. Casa não, apartamento.

Na entrada de seu antigo prédio um caminhão lhe chamou a atenção, alguém estava de mudança. Curioso, sem saber que sua vida é que estava por mudar, foi até o porteiro saber de quem se tratava.
- É uma Dona pro 303, respondeu o porteiro. Verdade!!!
- Eu, hein?! resmungou Tião.
Nesse mesmo instante, uma linda mulata abriu a porta do elevador pedindo ajuda para carregar uma caixa. Tião imediatamente se prontificou.
- Bela morena! pensou.
Era mais que bela. Seu nome… Verdade!
Largos quadris, seios fartos, lábios carnudos, manifestação do absurdo, Verdade. Nada mais que a verdade em si, carne, carne e osso. O tudo. Nova moradora do 303, acima do seu 203.
Tempos depois Tião amigou-se e dedicou-se à Verdade. Adeus vã filosofia. Nada de tudo, tudo de nada. Sonho da humanidade, a única e verdadeira Verdade que conhecera sua vida inteira!

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