quarta-feira, 2 de abril de 2014

SOBRE FOTOGRAFIA 2: FOTOGRAFIAS DE ESCRAVOS POR CHRISTIANO JR- por Marcelo Valle

Fato inusitado (ou talvez nem tanto) são as fotos de Christiano Júnior, datadas de 1865, que retratou negros escravos em seu estúdio no Rio de Janeiro, usando a mesma lógica dos carte-de-visité, no entanto, sem o aparato burguês, nos legando a maior coleção de fotografias de escravos brasileiros. Christiano fotografou negros simulando suas atividades de trabalho, os chamados escravos de ganho, floristas, ambulantes, barbeiros, vendedores de todo tipo, com o objetivo vendê-las para estrangeiros ou para brasileiros que estivessem viajando para o exterior. Imagens que, como nos lembram JAGUARIBE & LISSOVISKY (2005:54), não se enquadravam nos paradigmas antropológicos das classificações étnicas e raciais e também não eram ilustrações científicas. Acabam por fim se tornando verdadeiras aberrações, pois são segundo esses autores, duplamente incongruentes. A primeira incongruência está no fato dessas fotografias irem contra o próprio formato do carte-de–visité e suas características burguesas, que ressalta que o escravo estava ali deslocado, sem sua imagem social e destituído de um caráter individual, aquela imagem naquele lugar não lhe pertenciam. A segunda incongruência está na cena propriamente dita, em que ao representar a si mesmo, e ter feito a transposição do cotidiano das ruas para dentro do estúdio, a imagem ganhou um ar de “realismo descontextualizado”. A coleção completa de imagens produzidas pelo fotógrafo Christiano Jr., localizada no acervo do Arquivo Central do Iphan/Rio de Janeiro, é formada por cinquenta peças. Referência: JAGUARIBE, Beatriz, LISSOVISKY, Maurício. O Visível e os invisíveis: imagem fotográfica e imaginário social. In: O Choque do real: estética, mídia e cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 2007. —

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