quinta-feira, 3 de abril de 2014

SOBRE FOTOGRAFIA 4: Um pouco da fotografia brasileira no século XIX

Na fotografia realizada no Brasil, no século XIX, estendendo-se também até os primeiros anos do século XX, vão prevalecer sobretudo as paisagens e os retratos. Essas paisagens dividem-se em dois grandes grupos, as naturais e as urbanas. As paisagens naturais vão dar conta de um Brasil exuberante, selvagem, e colocam o espectador em contato com a natureza. As paisagens urbanas apontam para o progresso e a transformação, aos poucos o país vai se libertando dos traços “coloniais” clássicos portugueses. O progresso também é retratado na interiorização do Brasil através de grandes obras que desafiam a natureza como as estradas de ferro, hidroelétricas, pontes, aquedutos, entre outros. Durante o Império de D. Pedro II, muitos fotógrafos estrangeiros contribuíram para a construção de relatos fotográficos sobre o Brasil, acompanhando diferentes expedições e comitivas científicas, segundo BORGES (2011):
"Assim como as viagens fotográficas ao Oriente, os relatos fotográficos e textuais de estrangeiros sobre o Brasil também contribuíram para reforçar imaginários, sustentados pelos europeus, sobre a vida e a natureza na recém-criada nação brasileira. Pode-se dizer que quando se referiam à fauna e à flora brasileiras, os membros das expedições científicas tendiam a se orientar pelas imagens que sustentavam o espelho do paraíso. A vida social nas vilas, nos sertões e nas selvas era, quase sempre, orientadas pelos códigos culturais que alicerçavam o espelho rústico, selvagem e atrasado. Vista como uma nação “que por assim dizer, não tem passado” – para usar uma expressão do médico e cientista Johann Emanuel Pohl em Viagem ao Interior do Brasil (1817-1821) – a pujança de sua natureza alimentou a projeção de futuro grandioso". (BORGES, 2011: 101). As fotografias de viagem, já naquela época eram produto de um mundo que se tornava cada vez menor e se fazia conhecer através da circulação de imagens, estas por sua vez, se tornavam parâmetros universais de interferências públicas, urbanas e de consumo, influenciando inclusive relações sociais (o modo de ver o outro). Ainda de acordo com BORGES (2011) o imaginário estrangeiro definia de certa maneira como o Brasil era visto lá fora, associado a isto estavam as difíceis condições de produção dessas imagens, quer repercutiam num modo de olhar, cheio de metáforas e mensagens culturais, uniformizando não apenas o modo de ver o mundo, mas também o consumo dessas imagens por onde quer que passassem os viajantes europeus. Negros, índios e a gente do interior também ganham interesse ao olhar dos estrangeiros como parte de um Brasil, exótico e primitivo, que ao mesmo tempo guardava um futuro grandioso. Vale mais uma vez destacar que esse olhar refletia o pensamento da época atravessado pelo eurocentrismo e pelo etnocentrismo e que deixou rastros até os dias atuais. Referências: BASTOS, Maria Teresa Ferreira. Imagens secretas: fotografias da Polícia Política no acervo do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. In: Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Nº 4 – 2010. Disponível em:http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4204432/4102201/revista_AGCRJ_4_2010.pdf BORGES, Maria Eliza Linhares, História & Fotografia. Belo Horizonte: Editora Autentica, 2011.

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